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Arte de Weberson Santiago |
Nunca estamos totalmente preparados para lidar com a morte, mesmo que
anunciada por uma doença que se arrasta lentamente. Quem dirá quando é
repentina, inesperada.
A Natália e eu temos o costume de deixar a Anelise participar das
situações de perda que vivemos. Ela foi ao velório do pai da Natália no ano
passado e mais recentemente no de minha avó materna, que morreu de repente.
Acreditamos que, se ela viver os rituais envolvidos na morte de um ente
querido, estará mais preparada para viver outras perdas no futuro. Estou
falando de educação para a morte.
Educar para a morte é o contrário de poupar a pessoa de viver situações
que envolvem a perda. Não sou a favor de expor uma criança a uma situação de
sofrimento que seja mais forte do que ela pode aguentar e que a faça ter
pesadelos de que está perdendo seus pais, por exemplo. Mas que ela seja
gradativamente exposta a este assunto que faz parte da vida.
Na verdade, optamos por não ensinar nossos filhos a lidar com a morte
porque nós mesmos não sabemos lidar com ela. Preferimos evitar o assunto em
qualquer ocasião, inclusive numa conversa familiar longe da ocorrência de uma
perda próxima.
Aceitar a perda é um processo, com começo (a morte), meio (alguma forma
de sofrimento geralmente acompanhada de questionamentos que de fato não tem
resposta: por que com ele ou ela? Se eu tivesse feito tal coisa a morte seria
evitada?) e o fim (a aceitação que deve vir acompanhada de um novo sentido para
a vida sem a pessoa que se perdeu).
Algumas pessoas tem muita dificuldade de aceitar a perda. A tristeza faz
parte do processo de aceitação. O problema é quando se para na tristeza,
patinando sobre ela sem conseguir sair. É preciso algum esforço para
ultrapassá-la. Quando não se consegue sozinho é preciso pedir ajuda.
Cerca de dez dias após a morte da minha avó, enquanto tomávamos café da
manhã, a Anelise me perguntou:
— Quando a gente morre continua a fazer aniversário?
— A gente que fica se lembra do aniversário de quem morreu, mas não
canta parabéns. Agora, lá no céu eu não sei. Imagino que as pessoas que
morreram comemorem juntas lá, mas como a gente não tem como ir no céu pra ver,
não dá pra ter certeza.
— Queria tanto que a gente pudesse ir lá no céu pra ver como é que é, e
depois pudesse voltar pra nossa casa! – disse ela.
— Seria bem legal, né, Ane? Uma pena que não tem como... Quando eu era
criança e ouvia o padre falar de como é o céu, também tinha vontade de dar uma
espiada e ver se era tão bom quanto ele falava.
E assim ela vai ficando amiga do fantasma que é a morte.
| Pessoas que viveram em ambientes
em que a morte era um tabu, geralmente são as que não sabem o que fazer com
ela quando perdem alguém.
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