As mulheres chegam a 2010 ocupando um espaço diferente na sociedade daquele ocupado nos últimos séculos, não há dúvida. É dito à exaustão que sua participação no mercado de trabalho só vem aumentando, e mais, muitos ousam dizer que elas cumprem seus deveres de forma mais eficiente do que os businessmen. A comparação facilmente pode ser deixada de lado, mas a constatação do que vem acontecendo não.
“Durante o século XXI, a mulher emancipou-se” – diz-se inclusive na psicologia. Emancipar-se, segundo o dicionário Houaiss, é tornar-se independente, libertar-se, eximir-se de pátrio poder. Tenho cá minhas dúvidas desta tal emancipação. Calejadas com a espera do príncipe no cavalo branco, quase sempre frustrada, elas resolveram agir à galope. As mulheres estão “pegadoras” e andam se orgulhando disso. Nada possível se ela estivesse sozinha, e é aí que entram as amigas, para reforçar socialmente suas “novas” atitudes e encobrir algum comportamento sempre que for necessário. Essa mudança de comportamento seria a tal liberdade que não existia no tempo passado? Uma independência do machismo ou um feminismo machista?
Afinal, agora é a vez delas de não ligar ou sequer atender o telefone no dia seguinte de uma noite lasciva e pretensa. Descobriram que também tem o que bater na mesa para dizer quem manda. E sem truculência alguma. Com a sutileza de uma folha que cai da árvore. Aquela típica cruzada de pernas é coisa do passado, elas vão muito além.
Em nome de poder estudar, votar, igualizar os seus direitos, trabalhar, pensar, decidir o seu destino, gostar, gozar da sua sexualidade, julgar e tomar decisões sobre a sua vida e o seu ambiente elas parecem ter perdido a medida. Testam seu poder sobre os homens em situações das mais diversas. Na tentativa de estabelecer uma maior independência e autonomia, houve uma perda da feminilidade, ou melhor, o estabelecimento de uma feminilidade padrão, expressa gritantemente na aparência física de quem compra a fachada de bem suscedida.
O discurso feminista anti-pátrio-poder levantou o ataque ao machismo e acabou por elevar o feminismo ao mesmo status. A admiração a mulher multiprofissional que é capaz de lidar com diferentes demandas com sucesso é a conseqüência de tal discurso.

Analisemos uma máxima deste movimento: “A mulher assumiu poder, em casa, no trabalho, na política, na sociedade com o compromisso, a carga e a exigência que isso implica. Estas mudanças em um dos dois pilares da espécie exigiram reajustamentos em seu companheiro, o homem, ele, teve de se adaptar à concorrência em espaços que ele ocupava por ‘direito’”.
Volto a questionar: será que as mulheres sabem mesmo qual a carga e as exigências do lugar que ocupam hoje na sociedade? Penso que não. É a pretensão de quem profere tal discurso, que faz minha tataravó parecer uma fracassada e sem papel no mundo, o que me incomoda, por implicitamente considerar o pioneirismo feminino como se ocorresse apenas na atualidade. As matriarcas sempre souberam fazer valer sua opinião de forma indireta via persuasão, e isto é constatado inclusive em diferentes culturas.
A segunda afirmação toca na repercussão das mudanças para o homem. Não vejo no discurso deles indícios de medo de ultrapassagem ou necessidade de brigar por espaço, já que aprenderam os benefícios de exercitar a sensibilidade, mesmo que com limites, e a participar de forma mais ativa da vida familiar. A crise masculina se dá mais com a rotina do que com relação ao papel ocupado pela mulher na sociedade e na família.
Hoje em dia, a sensação de que no estádio da vida as cadeiras não são numeradas ou cativas independe do gênero. A dificuldade com as mudanças rápidas e com as incertezas do panorama mundial repercutiu na diminuição da função integradora feminina. O poder da soma parece ter sido esquecido pelas mulheres. É aguardar as cenas do próximo capítulo, cuja tendência é sair dos extremos e encontrar um equilíbrio.
A.A.N.
Dezembro/2009
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A arte é uma peça publicitária da marca Diesel, cujo slogan é live fast ("viva depressa") .