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Arte de Weberson Santiago |
Estávamos sentados no sofá da
sala, olhando pela janela o movimento das enormes árvores do canteiro central
da rua onde moramos, quando a Natália me perguntou:
— Aonde
os pássaros morrem?
A
pergunta me pegou desprevenido e eu, que nunca havia pensado nesta resposta,
enchi-nos de outras perguntas. Todas ficaram sem resposta.
Tirando
os casos de acidentes, em que um filhote cai do ninho e morre, das aves vítimas
de atropelamento ou das que foram alvo de caça para outros animais, nunca havia
me deparado na natureza com um cadáver de pássaro que tivesse morrido de morte natural.
No
amanhecer em que escrevo esta crônica, ouço o canto dos pássaros vindo de todas
as aberturas de minha casa. Logo cedo eles estão animados, fazem uma algazarra
e partem para a caça. Uma sinfonia composta por diferentes cantos ecoa pelo
bairro. Tenho a nítida sensação de que no lugar onde eu moro, existe
infinitamente mais pássaros do que pessoas.
E
mesmo com tamanha população, nunca me deparei com um pássaro morto. Aquela
dúvida continuava a me intrigar. Por um momento, cogitei que voltassem para os
seus ninhos, mas logo me lembrei que sempre que encontro um ninho, eles estão
vazios.
Depois
me passou pela cabeça que os pássaros poderiam se esconder para morrer, mas na
minha infância nunca encontrei, nem soube de um amigo que tivesse encontrado,
um cemitério de pássaros. Mesmo naqueles tempos em que ainda brincávamos pelas
partes inexploradas da cidade ou no sítio de algum amigo, nunca vimos nada
parecido.
Ouvimos
os cantos com prazer, assistimos embasbacados o movimento das revoadas, aprendemos
com a inteligência aerodinâmica dos bandos que fazem formação em V, admiramos a
persistência de um pássaro que atravessa um oceano em nome da sobrevivência da
espécie. E ainda assim, não sabemos onde eles morrem.
Fiz
uma longa pesquisa por respostas, sem nenhum êxito. Não encontrei cientista que
se incomodasse com a questão, mas fiquei intrigado com a pouca quantidade de
fotos existentes de esqueletos reais de pássaros mortos, comprovando que
ninguém encontrou esqueleto que pudesse ser fotografado. Em livros de biologia,
só se encontram ilustrações.
O que
me aquietou foi a resposta dada pelo poeta português José Gomes Ferreira, que
em 1972, intrigado pela mesma questão colocada pela Natália, escreveu:
“Nunca
encontrei um pássaro morto na floresta.
Em
vão andei toda a manhã
a
procurar entre as árvores
um
cadáver pequenino
que
desse o sangue às flores
e as asas às folhas secas…”
E
concluiu:
“Os
pássaros quando morrem
caem
no céu.”
| A ciência explica e aquieta a cabeça, mas só a poesia acalma a
alma.
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2 comentários:
Me fiz
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