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Arte de Weberson Santiago |
Sou
professor no ensino superior em cursos de Psicologia e também atuo no ensino
médio em dois colégios como orientador vocacional e com educação
socioemocional. Durante o exercício destas ocupações, andei incomodado com uma
questão: cada vez mais os estudantes têm dificuldade de trabalhar em grupo.
Embora
eu me dedique a criar um ambiente colaborativo, de respeito e união, utilizando
de diferentes estratégias e recursos, em diversas situações identifico muita
dificuldade de funcionar assim nos alunos com os quais trabalho. Acabo tendo
que relembrar da importância do grupo em diversos momentos do trabalho
desenvolvido e, o mais importante, ensinar como é agir pensando no grupo. Não
que não haja desenvolvimento, não que eu não observe progressos durante o
trabalho, mas é o excesso de dificuldade que me gera incomodo.
Qualquer
professor que passe um trabalho em grupo, verá que os alunos não mais se
reúnem, e sim dividem o trabalho em partes e cada um faz a sua, juntando as
partes no final. O trabalho acaba parecendo um Frankenstein, já que cada parte
é feita de um jeito e não há unidade nem harmonia entre as partes.
Isso não
é fazer um trabalho em grupo, e sim entregar um trabalho com vários nomes.
Fazer um trabalho em grupo é trabalhar em equipe: se unir em torno do mesmo
objetivo, se reunir para levantar ideias, superar conflitos de divergência para
poder avançar, se engajar na busca de materiais, produzir o trabalho em conjunto
e obter um resultado com ele que, se for bem-sucedido, fortalece todos os
comportamentos de trabalhar em grupo.
Quando o
trabalho não é feito em partes, um ou dois membros do grupo fazem o trabalho
inteiro, enquanto os demais não fazem nada. Às vezes, quem faz não reclama e
quem não faz não sente a menor vergonha de não ter feito.
A vida é
tão repleta de obrigações, pressão e problemas que, quando estamos em um grupo,
acabamos nos comportando sob efeito das emoções que essas situações nos geram:
ou me isolo e fico indiferente ao grupo ou então agrido com grosserias ou com
brincadeiras que incomodam o outro e aliviam meus desconfortos emocionais.
Raras são as pessoas que conseguem manter o equilíbrio, a gentileza e a doçura
em tempos difíceis como esse em que vivemos.
Fomos
perdendo a capacidade de colaboração e promovendo o individualismo. Os
prejuízos de funcionar assim na sociedade já são visíveis. Muita divisão entre
posições opostas, que nunca se propõem a ceder e a chegar em um consenso. A
união não está presente nem naqueles que compartilham a mesma posição, que
acabam criando conflitos entre si. E enquanto a gente se distrai discutindo
entre si, o que está errado na sociedade não muda, permanece.
Eu não
vejo outra saída para nossos problemas que não através da união e da
colaboração. Eu estou fazendo o máximo que posso na formação dos adolescentes e
universitários alcançados pelo meu trabalho para ensiná-los a importância e
como se comportar em grupos. E você, o que pode fazer para mudarmos essa
situação?
| Compartilhar objetivos, ter companhias nos caminhos e comemorar
conquistas coletivas é muito mais gostoso do que fazer tudo sozinho.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 24/03/2018, Edição Nº 1504.