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Arte de Weberson Santiago |
Pensa
num cara chato dentro de casa. Agora pensa num cara muito chato. O segundo sou
eu. Um chato com pós-graduação. Passo boa parte do tempo pegando no pé da
Natália e da Anelise.
Vivo
fazendo brincadeiras, que elas chamam de sem graça, mas que eu adoro fazer
assim mesmo. Respondo perguntas com duplo sentido para deixá-las em dúvida e
faço graça inclusive quando deveríamos falar de coisa séria.
Não
perco a oportunidade de fazer uma piada em qualquer situação. De vez em quando
dou um susto, outras vezes cutuco na lateral da barriga, faço cocegas nos pés
ou no pescoço.
Claro
que eu intercalo as brincadeiras com abraços apertados de surpresa ou com
alguma gentileza, senão seria insuportável. Mas parece que eu só sossego mesmo
quando escuto aquele sonoro “nossa, como você é chato!”.
Deveria
soar como ofensa, deveria servir como insulto, deveria ter o efeito de uma
afronta. Mas para mim, ouvir “nossa, como você é chato!” é como ouvir uma
música. Uma música das preferidas.
Minha
resposta padrão é: “Sim, sou chato, mas sou um chato agradável!”. A tréplica
costuma ser “Não, você não é chato, você é muito chato!”. Pronto, posso parar
com a encheção. Mas quem disse que eu consigo parar por muito tempo?
Sou
mestre em colocar apelidos, com ou sem sentido, palavras tiradas de situações
ou palavras inventadas. Seria capaz de preencher uma lista telefônica com os
apelidos que coloquei na Ane.
Aliás,
com a pequena, poderia definir minhas brincadeiras como um treinamento para
lidar com o bullying, de maneira que ela já desenvolva estratégias de
enfrentamento com minhas chatices para ser mais resistente com os colegas
impiedosos.
Você já
deve estar pensando como é que as duas me aguentam. Não só me aguentam como não
me deixam sair para o trabalho sem lhes dar um beijo e sem lhes responder a que
horas eu chego. Dizem que a casa sem mim – e sem a minha chatice – fica muito
sem graça.
É que
elas sabem que a minha chatice é um excesso de vontade de interagir. Elas sabem
que a minha chatice é uma recusa em aceitar o isolamento familiar com cada um no
seu quarto. Elas sabem que a minha chatice é a nossa casa cheia de vida.
| Ser chato é diferente de ser desagradável.
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Um comentário:
Grande Agustinho Carrara, esse privilégio não é só seu. Forte abraço.
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