sábado, 3 de setembro de 2016

Eu Não Sei Chorar

Arte de Weberson Santiago



Eu não sei chorar.
Eu não sei chorar porque fico pensando no que os outros vão pensar.
Não choro por amor porque tenho medo de me avaliarem como fraco. Não choro de raiva para não parecer descontrolado.
Não choro de saudade porque não quero demonstrar fraqueza. Não choro de alegria porque não quero que pensem que eu sou bobo.
Eu não sei chorar porque quero demonstrar que consigo controlar as minhas emoções.
Seguro o máximo que eu posso. Se meu copo estiver quase cheio, como diz a famosa comparação, e algum evento o faz querer transbordar, eu tento me segurar para não chorar.
Minha situação é o oposto da seca que andou assolando as represas no Estado de São Paulo. Meu estoque de lágrimas encheria a Cantareira.
Ainda assim eu me recuso a abrir as comportas do choro. Ainda assim eu prefiro represar as minhas emoções. Ainda assim eu prefiro conter as lágrimas.
Às vezes, quando me distraio, uma lágrima escapa quando fico comovido. Pelo motivo mais banal. Uma reportagem sobre a vida simples e feliz no campo que passa na televisão no domingo de manhã. Acho que de tanto impedir o choro, ele acaba por encontrar uma brecha quando eu relaxo. Se tem alguém perto, tento disfarçar. Viro para o lado ou levanto para pegar um copo de água.
Verter lágrimas me é tão vergonhoso que eu escondo até do meu chuveiro. Tento enganá-lo misturando uma ou outra lágrima com os fios de água que despencam dele. Tento provar que quem está chorando é o chuveiro e não eu.
Eu não sei chorar, mas se choro, ninguém pode ficar sabendo. É como canta o Arnaldo Antunes na música As Estrelas Sabem: “Eu não sei chorar, só me comover. Quase a me afogar, sem você saber”.
Eu não sei chorar e penso que quem chora quer chamar a atenção. Não gosto de chorar porque acho infantil querer colo quando não se é mais criança.
Eu não sei chorar porque me incomodo com a dependência. Acho que não chorar é a prova da independência. Eu não sei chorar porque eu não sei me abrir.
Eu não sei chorar e me sinto sufocado pelas minhas emoções. Eu queria saber chorar. Lágrimas em excesso não afogam, lágrimas caídas fazem respirar aliviado.
UM CAFÉ E A CONTA!
| Quem passa a infância sendo punido por chorar, passa o resto da vida não sabendo o que fazer com as suas emoções.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 10/09/2016, Edição Nº 1424.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sou exatamente assim.