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Arte de Weberson Santiago |
Depois de longos meses de trabalho,
recebi o aviso de férias. Nele aparecia a data de quando eu descansaria. O dia
em que as obrigações dariam trégua, quando estaria livre das amarras dos
compromissos.
O que eu fiz? Comecei a imaginar o
que eu faria a partir desta data. Sem pestanejar, comecei a fazer uma lista de
afazeres para as minhas férias.
Preciso consertar aquelas coisas
pequenas que me incomodaram durante o ano, mas que não tive tempo de arrumar.
Inclui:
— Prender com aquele ferrinho a
maçaneta da porta para que ela não saia mais na minha mão;
— Parafusar o porta toalhas do lavabo
para que ele não caia de vez;
— Dependurar o quadro que ganhei de um
amigo;
— Retirar o globo dos lustres que a
Natália me cobra há meses para que a faxineira possa remover o cemitério de
insetos;
—
Substituir algumas telhas da lavanderia por telhas de vidro, que foram
compradas há três meses, mas ficaram amontoadas no quartinho do fundo;
— Trocar as
plantas de vaso para aliviar as raízes do sufoco e podar a árvore da calçada
para que ela não continue crescendo desordenadamente;
Quando a lista de afazeres já havia
atingido o comprimento de um pergaminho, notei que estava substituindo minha
rotina de trabalho por uma rotina de afazeres em casa. Percebi que estava
evitando entrar em contato com o tempo ocioso e que não estava me permitindo
fazer coisas que gosto. Queria resolver pendências, mas boa parte do que faço
na rotina de trabalho é resolver pendências. Passar as férias fazendo o que se
faz quando não se está de férias, não é férias de verdade. Férias de verdade
devem incluir coisas que dão prazer e que não temos disponibilidade de fazer enquanto
estamos trabalhando.
Como somos humanos e não temos um
botão de liga e desliga, sair do ritmo alucinado da repetição do cotidiano e
ocupar a ausência total de tarefas das férias é um processo que exige tempo.
Alguns dias são necessários para se adaptar. Ir desacelerando, mudando de
ritmo. Por isso é que a primeira e a última semana das férias, ou os primeiros
e últimos dias, são os mais difíceis. São os dias de transição.
Quando saímos de férias, nos
deparamos com o vazio da rotina. Me pergunto: quem sou eu sem todos aqueles
compromissos? Quando as férias estão se aproximando do fim, nos deparamos com a
ansiedade do retorno. A questão é: vai voltar tudo outra vez! Será que eu dou
conta?
O meio das férias é a melhor parte, é
quando conseguimos aproveitar mais. Por isso, as férias não podem ser curtas
demais, para dar tempo de aproveitar.
As férias são um distanciamento da
rotina que serve para se desligar e para descansar. Só voltaremos
verdadeiramente renovados para a rotina se nos permitirmos desligar e
descansar.
Sua vida só anda se você parar. Pelo
menos uma vez ao ano.
| As
pessoas olham o descanso e as férias com maus olhos. Ignoram o fato de que a
qualidade do trabalho cai se não há trégua.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do caderno Dois, 09/01/2016, Edição Nº 1389.

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