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Arte de Weberson Santiago |
Um dia
eu cheguei a pensar que o bem-sucedido era aquele que buscava um objetivo sem
nunca deixá-lo de lado. Se você pensa assim, como eu já pensei, está enganado.
Foi o
que eu aprendi quando fiz um curso de padeiro e confeiteiro. O curso não me
ensinou somente a fazer massas de pães ou preparar qualquer tipo de cobertura
de confeitaria, me ensinou que o caminho para atingir um objetivo não é
persegui-lo obstinadamente.
Com toda
a minha empolgação com a arte dos pães, a primeira vez que eu fui sovar uma
massa parecia um iniciante ansioso em uma aula de artes marciais. Socava a
massa como o lutador ansioso querendo golpear qualquer um que apareça na sua
frente. O professor me chamou a atenção. Eu coloquei tanta força que venci a
massa por nocaute e ela quase não chegou ao forno. Revi a intensidade.
Logo que
a massa ficou homogênea e na textura certa, eu já queria levá-la ao forno e ver
o pão assado, quando me lembraram que a massa tinha de descansar para poder
crescer. O objetivo era ver o primeiro pão francês assado, feito com as minhas próprias
mãos. Ao deixar a massa descansar tive de deixar meu objetivo de lado. Aguentar
não fazer nada por ele por um tempo. Tolerar uma hora que me pareceram demorar
como se fossem cinco.
Levei
essa lição para a vida. Boa parte do que fazemos tem a hora certa de sovar e um
intervalo mínimo para descansar. Uma porção de coisas funciona melhor assim,
respeitando um intervalo de tempo entre uma ação e outra.
Ao fazer
uma dura crítica a alguém na esperança que de a pessoa mude, precisamos dar
tempo para que ela mostre (ou não) uma mudança de conduta. Se não dermos esse
espaço, apenas criamos as condições para que ela não aguente tanta pressão, não
dê conta de mudar e desista.
Quando escrevo um texto, depois de um tempo na redação, deixo-o guardado na gaveta (ou no arquivo do computador) para me distanciar do seu conteúdo e poder enxergar o que ainda não está bom. Quando eu não dou um tempo na revisão e fico relendo repetidamente, passo a não enxergar os erros de ortografia ou a falta de clareza em algum trecho.
Mesmo os
objetivos mais grandiosos e arrojados precisam ser deixados de lado em alguns momentos.
Não pensar antes de agir é
impulsividade. Não conseguir deixar uma ideia de lado é obsessão. Não saber se
segurar é compulsão. Os sentimentos não suportam ter de controlar o
incontrolável.
Há
momentos em que a melhor opção é deixar o tempo passar, a cabeça esfriar e esperar
que as contingências fiquem mais propícias para, então, se comportar. A
despreocupação também faz parte do processo de atingir uma meta. É nos momentos
em que nos desobrigamos a pensar somente na produtividade que conseguimos
encontrar a criatividade para solucionar algum entrave ou pensar em algum
acabamento alternativo. O excesso de preocupação só atrapalha, como me
atrapalhou a afobação de querer ver o pão assado.
É num
momento de despreocupação que a massa cresce. E pra fermentar uma ideia e
transforma-la em realidade é preciso saber a hora de sovar a massa – agir – e a
hora de descansar – dar espaço para que as coisas aconteçam ou se desenrolem.
Não sabe
identificar qual é o momento certo de cada coisa? Faça um curso de padeiro. Além
de aprender a fazer pães, descobrirá o que é ser padeiro das emoções.
| Massa, recheio e cobertura
precisam entrar em concordância. A cobertura não pode ser mais vaidosa do que
a massa. O recheio não pode chamar mais a atenção do que a cobertura.
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