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Arte de Weberson Santiago |
Quando um homem se torna pai, seus companheiros de trabalho é
que ganham com o nascimento do filho.
Acompanhei a gestação do meu parceiro de trabalho João e
outro dia quis confirmar, com a esposa dele, se ele tinha mudado depois da
paternidade. Percebi que o João tinha ficado mais paciencioso com a montanha
russa da rotina de uma empresa, inclusive nos dias em que a noite de sono
haviam sido mais fatiadas do que um pão de forma para cuidar da pequena Mariana.
Quando ela respondeu que sim, a Natália me perguntou se eu
havia mudado no trabalho depois da entrada da Anelise na minha vida.
A verdade é que minha vida toda mudou depois que ela chegou,
mas a mudança mais significativa foi mesmo no trabalho.
Não é possível negar a ida ao banheiro para a Anelise,
independente de onde eu estiver. É preciso arrumar uma latrina a qualquer
custo, e deixar de lado o que eu estava fazendo. Não se pode pedir para ignorar
a sede quando uma criança pede água, mesmo que tenha acabado de me acomodar depois
de um longo dia. A Anelise me obrigou a sair da posição de considerar somente as
minhas necessidades e me ensinou a ser mais sensível com as necessidades dos
outros. Ganhou quem precisa de mim no trabalho, que me encontra mais disposto
para acolher os pedidos e entender os motivos. Hoje sei reconhecer suas precisões
mais básicas.
Me encanto com os passos de independência da Ane, quando ela
aprende a fazer alguma coisa sozinha, como amarrar o tênis, por exemplo. Só que
até ela aprender, precisei repetir as instruções incansáveis vezes e ir estimulando
cada passo. Com isso, percebi que alguns princípios que eu defendo
profissionalmente devem ser repetidos com frequência para que ninguém esqueça.
Assim, notei que ser coerente no que eu falo e no que eu faço é uma forma de
dar segurança e incentivo para que trabalha ao meu lado.
As lições de casa da Ane são verdadeiros desafios. Para ela,
é um exercício de concentração. Para mim, um exercício de paciência. Depois de
ler as instruções e ajuda-la a começar o exercício deixado pela professora, de
tempos em tempos ela pede aprovação. “Está ficando bom?”. “Tá bonito?”. A
Anelise me fez aprender a gostar de acompanhar o desenvolvimento de quem
trabalha comigo. Fez com que eu ajudasse meus parceiros a colocar um foco nas
tarefas essenciais, sem esquecer do objetivo final, que é o crescimento.
Para mim, existe uma relação entre como a pessoa lida com seu
filho e como ela se dirige e administra as pessoas que trabalham com ela. Um
pai que acompanha seu filho, é capaz de fazer os funcionários que estão a sua
volta se desenvolverem. Já um pai ausente terá dificuldade de se aproximar de
um companheiro de trabalho, o que fará de vez em quando somente para cobrar os
motivos de suas insatisfações. Um pai que economiza elogios ao seu rebento não
saberá estimular seus colegas de serviço. Se não é um bom pai, não há de ser um
bom líder.
Não devemos compensar nossas relações familiares nas nossos
relacionamentos profissionais. Contudo, não podemos ignorar que o modelo que
somos dentro de casa é o mesmo modelo que levamos para fora dela, inclusive,
para dentro do trabalho.
| Dizem que grandes líderes são responsáveis, tem posicionamento
adequado e autocontrole, são pacientes e compreensivos, sabem delegar, são comprometidos,
honestos e autênticos. Só é tudo isso quem tem a coragem de buscar o
autoconhecimento.
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