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Arte de Weberson Santiago |
Acordamos
animados num sábado de manhã e resolvemos fazer um programa diferente: visitar
pela primeira vez uma feira de produtores de comida, produtos orgânicos e
artesanato. Nos arrumamos para o passeio e pegamos a estrada.
Chegando
lá, começamos a explorar as barracas, a conversar com os produtores e com as
pessoas que estavam por lá. Ficamos encantados com esta forma de comércio de
antigamente, onde ficamos mais próximos de quem produz e de trocar afeto numa
relação de compra.
A certa altura do passeio de compras,
estávamos numa barraca de pães integrais com e sem recheios orgânicos. Já
havíamos tido uma aula sobre fermentação natural e estávamos provando os
recheios. Aliás, esta é outra delícia deste tipo de feira, você experimenta
várias coisas e só leva o que realmente gostar.
Nessa
hora, chegou um cliente antigo e a dona da barraca de pães nos pediu licença e
foi lhe dar atenção. A senhora da barraca ao lado, que vendia antepastos em
parceria com a do pão se aproximou e perguntou de canto de boca:
— Vocês
são veganos?
Respondemos
prontamente que não. Ela então olhou para os lados, abriu sua caixa de isopor e
disse:
— Eu
tenho um pernil aqui que ficou oito horas no forno – disse com a boca de
ventríloquo para que as pessoas não pudessem ler seus lábios.
Me senti
no meio da favela, comprando droga na boca. Imaginei a cena de alguma fiscal,
tipo a Bela Gil, aparecendo na feira e passando por perto da barrada dela. “Ó
os home!”, eu ia gritar, para ela ter tempo de esconder o pernil.
E como
boa vendedora, ela sabe para quem oferecer: achou que tínhamos cara de gulosos.
A Natália pirou na bandejinha transparente cheia de carne acebolada com
azeitonas pretas. Eu estava na dúvida do recheio do pão e, enquanto a Natália
pensava no pernil, ela já havia escondido a iguaria, quando ela soltou para a
Natália:
— Nossa,
mais que pele, hein, bem? – sugerindo que ela deveria repor as energias gastas
na noite anterior mandando ver no pernil.
Não deu
outra, a Natália sacou a carteira e levou “o produto secreto”. Tendo certeza de
termos escolhido o que a feira tinha de melhor, continuamos o passeio.
Adoramos
todos os produtos orgânicos que trouxemos, mas o que mais foi divertido comer
foi o pernil. Passamos os dias seguintes lembrando da situação da sua venda e
caindo na risada.
E como o
proibido é sempre mais gostoso, o pernil deve ser o mais vendido da feira de orgânicos.
| Divirta-se com as coisas simples.
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