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Arte de Weberson Santiago |
Minha amiga Lilian me contou que estava com dificuldade de
montar sua árvore de Natal. Este ano, ela perdeu de forma rápida e inesperada o
pai, Seu Manoel. Ele era seu grande amigo, um pai extremamente carinhoso o ano
todo. Mas no Natal, ele se superava. Desde que a Lilian era pequena, Seu Manoel
escrevia cartas e cartões como se fosse o Papai Noel para todos os membros da
família e inclusive para si mesmo, lhes fazendo acreditar, ano a ano, na magia
do Natal. Ela me mostrou a pilha de envelopes outro dia. De: Papai Noel. Para:
Lilian. Me chamou a atenção que em um ano ele colocou o nome dela inteiro no
envelope, mas em outro ele colocou o apelido que ele usava com ela desde
pequena, Tutt. Observei que numa delas o destinatário eram a Lilian e o Daniel,
o marido dela. Ele continuou sendo o Papai Noel mesmo depois que ela se casou.
Além dos cartões individuais, a família recebia um cartão musical em que havia
uma estrela como o nome dele ao centro e os nomes de cada familiar em volta.
Este será o primeiro natal da Lilian sem ele, sem o abraço de
seu Pai Noel, e ela está bastante chateada com isso. Tão chateada que se
recusava a montar a sua árvore de Natal. O primeiro ano quando perdemos alguém
que amamos é realmente muito difícil. Em cada data comemorativa somos obrigados
a encarar a ausência onde gostaríamos de encontrar a presença.
Quem não se conformou com a recusa em montar a árvore foi a Luísa,
a filha dela. É tradição na família da Lilian montar a árvore no dia 11/11,
quando é o aniversário do cunhado Ricardo, e ela enfeita a casa da família com
a árvore para a reunião. Luísa começou a cobrar a mãe depois que o aniversário
passou e nada dela montar a árvore. Novembro terminou e dezembro começou, e a
Luísa insistia para que a mãe aceitasse montar a árvore.
Insistiu tanto que a Lilian aceitou. Ela cedeu porque não
achava justo que a sua tristeza deixasse o Natal de sua filha sem aquilo que
justamente fez tanta diferença na sua história. Ela sabia que seria difícil,
mas também sabia que precisava manter vivos o espírito do Natal e o espírito
natalino do Seu Manoel. Foi a Lilian pegar a árvore e os enfeites para um nó
apertar a sua garganta.
Ela explicou para a Luísa que os laços, que eram de um tecido fino e estavam amassados, precisariam ser dasamarrotados. E com uma cortina de lágrimas escorrendo de seus olhos, a Lilian foi desamassando e entregando o laço para a Luísa dependurar. Sem dizer uma palavra sequer, Luísa pegava o laço, enxugava as lágrimas da mãe com as mãos para que ela desamassasse o próximo. E assim a Luísa fez até que a árvore foi toda montada.
A Lilian me confessou que desde que ela a havia comprado, nunca sua árvore tinha ficado tão bonita quanto dessa vez. A dor realmente pode ser transformada em algo bonito. Lágrimas são como uma água benta que descortina os olhos para que eles possam admirar o que a vida ainda tem de belo.
Luísa foi sábia ao insistir. Fez a mãe encarar a dor da perda
e, na sabedoria inocente de uma criança, fez com que sua mãe consiguisse dar
alguns passos na direção de aceitar o que aconteceu e superar o fato de que não
terá o seu Papai Noel presente fisicamente neste Natal.
Para a Liliam, Papai Noel existiu. Com a maturidade, ela descobriu que ele não morava no Polo Norte, mas no quarto ao lado, depois numa casa por perto. Difícil é aceitar que agora o Papai Manoel mora no céu.
Luísa aprendeu com o avô Manoel, que o Natal é época de trocar carinho, de retribuir afeto, de dar colo para quem nos deu colo. Essa é a grande lição deixada pelo pelo Avô Noel e que não pode morrer.
| Algumas pessoas
tem o privilégio de ter um Papai Noel ou uma Mamãe Noela o ano inteiro.
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