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Arte de Weberson Santiago |
Todo mundo já assistiu uma cena de grosseria desnecessária de alguém
aperreado. Uma reação fora de contexto, desproporcional a situação de que se apresentava. Uma série de pequenas situações em que me
deparei com um maldisposto me fizeram pensar neste tipo de reação.
Outro dia, enquanto viajava e passava por uma cidade pequena, passei mal
e tive de procurar um pronto socorro. Não havia fila nenhuma e o atendente da
recepção foi bastante simpático. Não posso dizer o mesmo do médico, que ao
ouvir meus sintomas, parecia querer me culpar por ter ficado doente ao invés de
me tratar. Para não me mandar embora sem tomar nada, receitou analgésico.
Quando fui encaminhado à enfermeira, ela começou a gritar porque o médico
sempre receita medicamentos de uso caseiro para tomar ali e depois o restante
da cartela fica na enfermaria até passar da data de validade.
A impressão que me deu é que nenhum dos dois queria estar trabalhando no
pronto-socorro naquele momento. Ele queria que pessoas como eu não tivessem
ficado doente. Ela queria que pessoas como eu não precisassem ser medicadas.
Eu respondi a tudo com calma, já pensando onde poderia, de fato, ser atendido.
Senti muita pena de quem depende única e exclusivamente daquele atendimento e não
tem outra opção. Este é um exemplo, mas todo mundo já viu um atendente sendo
grosseiro com alguém que faz um pedido em uma loja ou supermercado.
Talvez estas pessoas tenham razões para estarem mal-humoradas, mas
existe uma série de outras pessoas que também tem razões para ser avinagrados e
não o fazem. Achar a vida um fardo não dá o direito a ninguém sair distribuindo
patadas por aí.
Quem faz isso, é como se cobrasse das outras pessoas o custo de viver.
Se eu estivesse num restaurante e fizesse uma escolha ruim de prato, que não
agrade meu paladar, seria justo que eu mandasse a conta para a mesa do lado,
que parece estar saboreando a sua escolha?
É exatamente isso que o azoretado faz. Cobra dos outros o motivo de suas
próprias frustrações.
Como eu não gosto de cultivar o hábito de olhar apenas o lado ruim das
coisas, existem pessoas que quando estão embezerradas, não se dão o direito de
atazanar a vida alheia, muito pelo contrário, dispõe-se a dar o seu melhor
ainda que tenham colhido o pior.
Para mim, o remédio para lidar com um amolado é responder com gentileza,
ao invés de rebater com agressividade. Até porque se não admiro sua atitude,
não devo faze igual.
| Um limão azedo se resolve com algumas colheradas
de açúcar.
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