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Foto de Lélia Oliveira |
Num sábado recente resolvi comprar um livro pela internet. Buscava um
presente para a Natália, algo especial para uma data importante de nosso
relacionamento.
Ao ler a sinopse do livro de Stephen King tive a sensação que havia
achado o presente certo para a data. As palavras ainda ressoam em meus
pensamentos: Love é uma parábola sobre a imaginação e o amor, e sobre o poder
do amor de transformar e salvar.
Recorri a Estante Virtual, um site que passa suas informações ao vendedor e
este manda um e-mail explicando sobre a postagem do livro e o prazo de entrega.
Nada fora do convencional, são trocas metódicas. Um detalhe nesta compra tornou
a história inusitada.
Na tarde do sábado seguinte recebi um e-mail que confirmava o pagamento
e informava que o livro seria postado na segunda-feira. Comprava do Beto Chade,
o livreiro dos Araçás, que pareceu querer algo mais do que me vender o livro, o
que concluí ao ler seu e-mail:
“Há muito pensei uma forma de poder estar mais próximo àqueles que
cruzam em meu caminho e parece-me que encontrei uma forma simples, porém muito
verdadeira. Então enviarei junto ao seu embrulho, um presentinho, algo que não
tem valor material, e sim espiritual. Para se ter a exata dimensão do meu
sentir, remeto em anexo uma crônica minha que explicará as razões de toda essa
história. Caso tenha tempo, leia.”
Beto criou uma expectativa e minha curiosidade esticou o tempo até a
chegada do livro. Fechei o portão na cara do carteiro e logo abri o pacote. Me
deparei com o livro, uma pedra branca e um papel dobrado dentro de um envelope,
a crônica.
Devorei o texto, queria entender o que ele queria. Beto conta que
caminhava pela praia com os pés na areia quando começou e recolher pedras
brancas do chão e se lembrou de um livro que leu. O autor defendia que não
havia nada mais precioso do que o poder da gratidão. Palavras do Beto:
“É certo que se deve almejar sempre algo mais ou melhor. Mas, por outro
lado, não conseguiremos isso maldizendo a vida que possuímos, as coisas
materiais que temos, reclamando das pessoas em torno de nós. Um dos autores
desse livro queria dedicar um ou dois minutos de seu dia para agradecer por
tudo aquilo que a vida lhe entregara, mas, com o atropelo da rotina, quase sempre
se esquecia. Um dia, olhando uma gaveta, achou uma velha pedrinha que sua
filha, quando ainda era uma criança, lhe deu como presente. Sorriu com
satisfação. Era uma lembrança boa. Agradeceu pelos filhos perfeitos que
possuía. Pegou a pedra na mão e teve uma
brilhante ideia: ‘Vou levar essa pedrinha comigo, em meu bolso, todos os dias’.
Todas as manhãs a rotina se cumpria, junto a sua carteira, aliança, celular, lá
estava sua pedrinha. Ao pegá-la, agradecia em pensamento tudo aquilo que fazia
parte de sua vida. À noite, quando chegava em casa, repetia o ritual ao
contrário, pois ao esvaziar os bolsos estava lá o ‘lembrete’ simbolizado pela
pedra. E, novamente, fazia seus agradecimentos.”
Enquanto caminhava na praia, Beto resolveu juntar um punhado de pedras e
ensinar aquilo que ele passou a fazer depois de ler esse livro. Queria entregar
uma pedra branca e um pedaço de papel para aqueles que lhe são caros
entendessem o significado e o funcionamento do ritual. Ao imaginar a cena, conta
que ficou constrangido com a situação de entregar pedrinhas. Teve medo de
parecer bobo. Apesar disso, escreveu esta crônica para contar a história, mas decidiu
que esperaria que as pessoas lhe pedissem a sua pedra:
“Porque elas são muito preciosas para estarem nas mãos de pessoas que
não as valorizem. Então, escolhi entregá-las à medida que forem sendo pedidas.
Sei que muitos daqueles para os quais peguei as pedras irão pedi-las. Posso ter
feito mal juízo de alguns, mas podem ter certeza, cada um dos que pedir me
trará uma alegria para o coração.”
Eu fui escolhido para receber uma pedra destas junto com meu livro.
Depois deste dia, passei a leva-la comigo no bolso, junto com todas as
bugigangas que carrego. Quando vou coloca-la no bolso agradeço por algo ou
alguém que faz parte da minha vida. Ao final do dia, quando a retiro, faço o
mesmo. Um breve agradecimento. Como se tornou corriqueiro, varia o motivo da
gratidão. Já agradeci até pelos problemas que me fazer progredir.
O presente da Natália deixou de ser o livro. Ela recebeu o envelope com
a crônica e outra pedra branca.
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