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Arte de Weberson Santiago |
Por muitas vezes eu me vi como o desacreditado. Percebia que
as pessoas me olhavam com desdém. Duvidavam dos alvos que eu mirava. Não
apostavam em minha capacidade e esperavam qualquer dificuldade para apontar
como uma confirmação de sua expectativa.
Era assim quando eu tentava subir no ringue para derrubar a
obesidade que me acompanhava desde a infância. Nos primeiros anos, vários foram
os especialistas contratados para ajudar, mas eu ainda não percebia o excesso
de peso como problema e os fracassos foram se sucedendo.
Na adolescência, passei a encarar o problema como se fosse
meu. Ficou realmente pesado carregar todos aqueles quilos e aceitar os olhares
e os comentários quase nunca disfarçados. A cara de quem chegava no ônibus lotado
e constatava que a única cadeira era ao meu lado denunciava o incômodo por eu
ocupar mais espaço no mundo do que a maioria das pessoas. A cara era seguida
pela atitude que confirmava o incômodo, a maioria preferia ficar de pé ao
ocupar um terço de dois bancos.
O problema não era reconhecer a falta de controle diante da
comida. Difícil era aceitar como os outros entendiam a questão: que a obesidade
era apenas falta de força de vontade ou
excesso de preguiça de me exercitar. Não conseguia aceitar a explicação
da auto-estima que diz que comer desenfreadamente é resultado da ausência dela.
O que chamamos de auto-estima é um sentimento resultante da consideração de
várias pessoas sobre aquilo que a gente faz ou pode fazer. E não se encontra consideração
quando se é desacreditado.
Ocupar o lugar do desacreditado com muita frequência faz
aceitar o descrédito. O mais perigoso é aceitar a falta de credibilidade e se
acostumar com o sentimento da não confiar na própria superação. De tanto ser
desacreditado, passei a acreditar que não era capaz de ser o mínimo suficiente. E há
sempre alguém por perto para te lembrar. E a mudança fica cada vez mais distante.
É preciso muita força e a ajuda de pessoas confiáveis, que
também acreditem, para conseguir sair deste cenário. Força é diferente de
agressividade. Não é preciso tentar convencer quem desacreditou que você é
capaz, mas é necessário manter o foco na superação do seu problema. Buscar
estratégias sabendo que elas podem falhar e que, falhando, entrarão para a
lista de tentativas. Por mais tempestuoso que se mostre um cenário, sempre há
alternativas. Se não der certo, partir para uma próxima estratégia. Uma delas é
a que dará certo para você.
Demorou um bocado de tempo e uma série de tentativas, mas eu
consegui me livrar de mais de sessenta quilos que me incomodavam. Magro, recebi
a proposta de trabalhar com esporte e com atletas. Foi aí que me senti
desacreditado novamente, mas mais uma vez fui persistente para mostrar o
contrário. Hoje, parte do meu trabalho é fazer as pessoas reencontrarem o
crédito em si mesmas que elas perderam pela vida afora.
Um desacreditado teimoso é capaz de se tornar o bem sucedido.
E aquele que desacredita costuma ser tão fiel aos seus julgamentos que, quando
se depara com o sucesso de quem desacreditou, fica confuso. Não consegue
acreditar que se enganou e se recusa a reavaliar os seus critérios num primeiro
momento.
A melhor saída é desacreditar em quem desacreditou de você.
Não dê ouvidos a quem dá de ombros para sua capacidade.
| Eu ainda acredito em um mundo em que as pessoas se apoiem mais e
duvidem menos umas das outras.
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