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Arte de Weberson Santiago |
Eu não confio em quem faz promessas de ano novo. Para mim, as
resoluções de ano novo disfarçam algumas dívidas que fizemos consigo mesmos no
ano que acabou de terminar. As promessas mostram as pendências. Se não foram
cumpridas no ano que terminou, como vou acreditar que serão cumpridas em uma renovação?
Existe uma tendência à procrastinação, uma disposição em
deixar para depois, de amolecer na decisão, de se perder no meio de outras necessidades
e até de se distrair com qualquer novidade. No dia trinta e um de dezembro
imitamos políticos em camapanha. Prometemos mundos e fundos em comícios em que
somos, ao mesmo tempo, falantes e ouvintes. Passada a posse do primeiro dia do
ano, as promessas são esquecidas.
Acredito que todo mundo tem o direito de querer mudar, mas
deve tomar cuidado com aquilo que promete. Pior do que cair na lábia de um
terceiro é ser enganado pelo que se diz a si mesmo. Todo momento pode ser uma
oportunidade de mudança. Não é a virada de ano a única ocasião para recomeçar.
Acredito que a maior aliada para uma mudança é a organização.
Quantos pegam uma folha de papel e enumeram sua lista de necessidades? Ninguém
quer registrar a promessa, criar a prova para caso venha a falhar. É o medo do
próprio julgamento, da severidade do delegado que existe na consciência de cada
um. A lista de necessidades nos torna capazes de administrar as prioridades.
Com ela é mais difícil de esquecer o que é importante.
Antes de desejar um ano novo cheio de mudanças, pare e
observe o quanto o ano que terminou lhe exigiu adaptação, paciência, jogo de
cintura, habilidade para lidar com pessoas difíceis. Ao invés de querer que a
vida lhe ofereça novas possibilidades, seja sincero consigo e encare todas as
oportunidades que você deixou passar, as verdades que você preferiu não olhar,
as palavras que você escolheu não dizer.
O meu maior medo em uma passagem de ano é tropeçar no dia
trinta e um de dezembro e cair no dia primeiro de janeiro, ignorando o terminar
e o recomeçar como um momento de reflexão.
A vida fica sem graça demais se não podemos aprimorar os
próprios valores e sem as situações que colocam em questionamento as nossas
crenças. Qual o sentido da sua vida? Onde você quer chegar com ela? No que você
acredita? O que você valoriza e pretende lutar para que não escorra pelos vãos existentes
entre os seus dedos? Como você tem agido emocionalmente? Como você compartilha
seus recursos (o que você tem de melhor)?
Responder a estas perguntas é mais difícil do que fazer um
teste de múltipla escolha daqueles de revista e contar os pontos para que você
saiba o resultado. Algumas das questões que levantei acima podem ficar sem
resposta.
As pequenas mudanças são possíveis apenas quando temos
coragem de encarar grandes reflexões. A felicidade não está em uma resposta
absoluta a estas perguntas, mas no questionamento constante, já que a vida
muda, as coisas mudam e as pessoas ao nosso redor mudam.
Por isso, eu desejo a você e aos seus queridos um 2012 cheio
de mudanças, para que desenvolvam as suas capacidades de adaptação. E na hora
de agir, que cresçam as suas ousadias, para que vocês não fiquem presos às
atitudes de sempre. Desejo,
principalmente a você que, ao final de 2012, refaça aquelas perguntas e as suas
respostas lhe deixem mais satisfeito, com um sentimento de renovação.
E talvez assim, nesse árduo e agradável caminho do viver, torne-se
possível mudar a rotina, o hábito e o comportamento repetitivo.
| Um feliz ano novo é o que começa igual e termina diferente.
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